top of page
  • Writer's pictureKelly Tavares

Reencontrando Portugal

A passagem de pouco mais de um mês por Portugal me levou ao reencontro com minhas raízes portuguesas presentes no Brasil. Muitos brasileiros, primxs, amigxs de norte a sul. Encontros e desencontros e uma pesquisa para concluir nessa jornada.

Iniciei no Porto, cidade muito bonita. Após 6 meses na Inglaterra, foi em Portugal que tive mais dificuldade para entender o idioma. O falar picotado por consoantes torna a compreensão, um desafio, para os brasileiros, mas tudo bem. Estava feliz de ver nas pessoas e locais semelhanças com minha terra natal e lembranças de uma infância entre imigrantes portugueses do centro do Rio de Janeiro.

Mais que paisagens, busquei parentes, entender como viviam, onde viviam, como estavam, por onde andaram e mergulhei nas cidades com tudo. Passando por Guimarães, Figueira da Foz, Leiria, Marinha Grande, Batalha, Óbidos, Lisboa, Mourão, Reguengos de Monsaraz, Évora, Lagos, Cabo de São Vicente, Fortaleza de Sagres, Portimão e Monchique. Meu interesse estava presente aonde nossas histórias se cruzavam.

Em cada lugar um sabor, um saber, sua arquitetura humilde. Gostei daquela arquitetura baixa, sóbria e tão humilde na sua forma de habitar o espaço. Sem soberba vivem os mais humildes, numa xícara de café a cada esquina. Entre amigos é o que deve ser, o café tem mais sabor. Uma cerimônia diária de reencontro entre amigas e amigos. Falam de coisas contumazes como se fossem únicas e assim o cotidiano se reinventa e refaz. Aqui o expresso é o que é, como o é nos populares cafés do Rio, filtrado não se fala disso e especial é muito chique, mas procurando se acha, nos grandes centros. Raspadinha é vício nacional e também evoca a presença dos amigxs pra ajudar a conter o “mal”.














Parou no tempo Portugal, aqui avançam também os novos edifícios sem costumes, de brasileiros de todos os lados, imigrantes de todos os jeitos, por todas as partes, portugueses, quase não viajam mais nada, sua missão foi a de “descobrir” o Brasil e como nada mais resta, ficaram em paz, em decadente estado de paz, sem perder a solenidade tonal nos fatos de um passado histórico soberbo de reis e rainhas, conquistadores, navegadores com ignorância dos fatos históricos mais sórdidos, aos que se convém manter em silêncio. Como em silêncio está o ouro perdido e encrustado em altares de igrejas barrocas.

A escravidão e seu roteiro, já não desperta qualquer interesse, memoriais, museus, marcos enaltecem os descobrimentos e mantém-se encoberta a história do tráfico de pessoas, dos genocídios humanos do desconhecimento generalizado. Brasões, espadas, caravelas e coroas se misturam a temas épicos pintados em branca azulejaria. Encontro a colônia na metrópole e busco entender mais, de seus feudos bucólicos de um passado medieval sórdido e miserável, que levou sua população faminta em busca do ouro em antigas embarcações.

Mas foram importantes os encontros, intensos e abaláveis, teve amor e dor, como em todo relacionamento mais profundo. Tiveram pratos típicos e sonhos, descobertas e desesperanças, emoções. Amigxs e parentes me mostraram um Portugal só deles, cada um a sua maneira e isso foi bom. tive acesso ao mundo real de cada um. Uma chave que o turista não tem e em um tempo só nosso, precioso e sem pressa, ora com ou sem poesia, mas sempre em busca.

A pesquisa sobre a rota da escravidão foi recompensada, tanto que escreverei um artigo somente sobre ela. Lisboa e Lagos foram referências surpreendentes. Lagos descobri pouco antes de adentrar o território português. Em terras portuguesas também, como no Brasil, os nativos pouco se importam com o passado, tão presente em estigmas e tão invisibilizado. Segue que a maior parte dos interessados no estudo da diáspora africana são afrodescendentes norte-americanos e ingleses. E em Lisboa, um de seus principais representantes e guardião de uma narrativa africana essencial é Naky e seus tours de uma Lisboa afro, que faz toda a diferença.














2 views0 comments

Recent Posts

See All
bottom of page